RESENHA - A Distância Entre Nós (Thrity Umrigar)
- Hellen Rosa
- 12 de jan.
- 2 min de leitura

Em A Distância Entre Nós, somos levados a uma ambientação pouco explorada pela literatura ocidental: a Índia. Um país marcado por uma grande desigualdade social, preconceitos estruturais enraizados na cultura moderna, superlotação e uma parcela da sociedade vivendo em extrema pobreza, com pouquíssimos recursos básicos.
Na narrativa, conhecemos duas protagonistas que são, de certa maneira, amigas: a Bhima e a Sera. Sera é uma viúva aristocrática Parsi que vive com a filha e o genro na casa onde conviveu por anos com seu falecido marido. A Bhima vive em uma favela, é hindu e pertence a uma casta inferior. Apesar de no contexto atual do romance o sistema de castas já ter sido banido, o resquício histórico dessa grande segregação ainda se faz muito presente. Enquanto a Sera é educada, formada, e dota de uma boa condição financeira, a Bhima é analfabeta, pobre, e vive de cozinhar e limpar a casa de Sera.
As duas dividem anos de intimidade, mas a diferença social entre elas compões, como no título, uma grande distância entre as duas. Ao longo do livro, conhecemos a história das duas mulheres, que mesmo em contextos completamente diferentes, dividem semelhanças catastróficas, tanto na história do casamento delas, como em seus passados familiares e jornada como mulher naquela sociedade. Uma das grandes semelhanças entre elas é a esperança que ambas nutrem pelo futuro de suas gerações. E é esta esperança que é colocada à prova para Bhima quando sua neta Maya surge grávida, sem marido, numa situação que significa a ruína social e financeira para a garota, que teria de desistir da faculdade.
Enquanto Bhima tenta salvar o futuro da neta, conhecemos detalhes sobre a estranha amizade entre Bhima e Sera, que se salvam em muitos momentos, mas são irremediavelmente distantes em outros. Um exemplo disso é que Sera sempre tratou Bhima como mais que uma simples empregada, inclusive se propondo a pagar pela faculdade de Maya, mas nunca permitiu que a mesma se sentasse em algum móvel de sua casa (cadeira, sofá, etc.).
Entre os temas abordados, citamos: violência doméstica, miséria, narcisismo, gravidez e aborto, adultério, AIDS, educação, amizade, abandono e desesperança.
Thrity Umrigar é genial ao nos conduzir para uma realidade que inicialmente pensamos ser muito distante da nossa (no contexto ocidental), mas que mostra-se inerente à todo sofrimento humano, nos mostrando que as dores compartilhadas por mulheres são as mesmas. É uma leitura enriquecedora, capaz de embrulhar o estômago, arrancar lágrimas e esquentar o coração na mesma medida. Extremamente útil em proporcionar uma experiência sensível dentro de uma realidade poucas vezes visitada pela mídia moderna. Um livro que rompe barreiras geográficas e conscientiza o leitor.
Com uma nota de 4,5 estrelas por parte do Entre Parênteses, é uma leitura recomendadíssima. O único problema é que o livro parece ter sido escrito para um público indiano, então apresenta termos em hindi que nem sempre são explicados em seguida. Na descrição dos ambientes também recebemos informações onde espera-se um conhecimento prévio que pode ou não estar em posse do leitor. Sugerimos uma pesquisa breve.
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