A migração de homens para longe de suas casas seguindo empregos, oportunidades de crescimento ou guerras é historicamente comum. Com a inclusão da mulher no mercado de trabalho, o afastamento do lar deixou-se de se limitar a um único gênero. Um movimento muitas vezes necessário para a subsistência ou crescimento de uma família que, não raramente, impacta diretamente a estrutura dela.
Focando unicamente nas relações amorosas, é interessante observar como esse espaço de tempo separados é determinante para o término ou fortalecimento de uma relação. No último mês tive a oportunidade de presenciar o desenrolar de duas histórias. Em uma o marido trabalhou por três meses seguidos, sem pausa para feriados ou finais de semana, para trazer a esposa para perto de si outra vez. Outro, em contrapartida, apaixonou-se por uma atendente de posto de gasolina, rompeu com a esposa por telefone e certificou-se de não voltar a vê-la.
Não são histórias isoladas, mas as semelhanças contextuais fizeram-me questionar o que há de tão assombroso na distância. São rotinas desfeitas, corpos fisicamente separados e um mar de possibilidade que convida ambos a se perguntarem "e se?". Tudo isso em um tempo quase sempre indeterminado. Um espaço em branco. Uma vírgula, um ponto? Todas as alternativas são possíveis: ficar, partir, voltar.
Quanto mais penso nisso, mais me admiro da determinação dos que escolheram voltar para casa — e aqui por casa, refiro-me a alguém; dos que lutaram bravamente contra as noites solitárias, as diversas tentações e a saudade, que pode machucar mais que a exaustão do corpo de alguém que trabalhou sem pausa.
No fim, entendo que cada um preenche os espaços em branco a seu modo. E que a distância é sempre, sádica e irrevogavelmente, uma prova de amor.
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